Os desafios de uma campanha eleitoral para o Senado

Os desafios da campanha ao senado
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Desde que comecei a trabalhar nos bastidores do processo eleitoral, considero a eleição para Vereador a mais desafiadora.

Muitos candidatos, pouco dinheiro, estrutura ineficiente e muitas vezes um candidato que, embora bem-intencionado, ainda não compreendeu todas as nuances do processo.

A segunda eleição mais desafiadora é o Senado. Mas em um contexto diametralmente oposto: Gasta-se milhões, são montadas grandes estruturas com marqueteiros estrelados e os candidatos são políticos experientes. Mas a desafio está na percepção do eleitor.

Ao longo dos últimos anos conduzi diversos estudos para candidatos ao Senado Federal e esse é o meu diagnóstico:

1. Falta de Clareza Sobre as Funções

Muitos eleitores não compreendem o papel do Senado – e, portanto, não sabem o que esperar de um Senador. 

Enquanto o trabalho dos Deputados Federais é mais familiar, as funções do Senado são uma incógnita.

O sentimento é que o Senador é um “Deputado Caro”

Responsabilidades como revisar projetos de lei, julgar autoridades e aprovar indicações para tribunais superiores passam longe do papel atribuído ao Senadores pelos eleitores.

2. Menor Presença no Cotidiano

Diferente de prefeitos, governadores e do presidente, os senadores não estão diretamente ligados a políticas públicas visíveis, como obras, programas sociais e infraestrutura, o que dificulta a percepção de seu impacto na vida do cidadão comum.

A duração do mandato é longo, o que faz com que o eleitorado tenha menos contato com os Senadores, que muitas vezes disputam a reeleição em uma conjuntura política completamente diferente daquela em que foram eleitos

3. O lugar dos “velhos caciques”

Muitos senadores são políticos que atuam há décadas. Isso faz com que o eleitor, por vezes, encare o Senado como um espaço dominado por velhos caciques, que aumenta o desinteresse.

4. O Senado como prêmio de consolação

Com frequência, uma vaga para disputar o Senado surge como “prêmio de consolação” para pré-candidatos ao Governo Estadual que não conseguiram se viabilizar.

Nestes casos, a campanha ao Senador costuma estar no mesmo eixo estratégico da campanha para o Governo, que usa o candidato ao Senado como uma mera ferramenta política, dificultando a construção de uma identidade própria para o Cargo.

Quais os caminhos para conquista o voto para o Senado?

Caminho natural para Governadores bem avaliados em final de mandato.

A falta de clareza em relação às funções dos Senadores e distanciamento natural dos Senadores em final de mandato com os eleitores favorece a candidatura de Governadores bem avaliados em fim de mandato.

A exposição na mídia e reconhecimento popular que os Governadores possuem são vantagens estratégicas frente a Senadores que os eleitores sequer lembram o nome.

A campanha do Governador ao Senado é muitas vezes um no-brainer para os eleitores que aprovam o governo: o caminho natural para alguém que “já fez muito”, que “já conhece Brasília”, vai conseguir “trazer recursos para o Estado” e “é bom”. (Entre aspas estão falas frequentemente em grupos focais para justificar o voto).

Neste caso, não é um voto alinhado com as expectativas dos eleitores, mas de gratidão e reconhecimento. Essa motivação é um risco para esses governadores: o voto é mais sobre o futuro do que sobre o passado.

Voto em lista

O maior risco aos governadores em final de mandato é o voto em lista. Especialmente se o sucessor do Governador não estiver fazendo um boa campanha.

Graças ao baixo engajamento dos Senadores em mandato e de governadores que “fizeram muito”, mas não estão alinhados com o futuro, o eleitor pode decidir pelo “voto em lista”.

Se eu me identifico com um candidato a Presidente ou a Governador e também vou considerar o seu candidato ao Senado.

O apoio de um candidato majoritário não significa transferência de votos, mas trás visibilidade. E uma vez que o eleitor entende que aquele Candidato ao Senado representa o mesmo projeto do Governador ou do Presidente, há possibilidade de conversão do voto.

Em 2018, Romeu Zema foi eleito Governador de Minas Gerais em uma campanha histórica. Rodrigo Paiva, o candidato ao Senado da sua chapa, recebeu impressionantes 1.342.645 votos. Um resultado excelente para um nome que disputava sua primeira eleição.

Dois anos depois, Paiva disputou a prefeitura de Belo Horozonte e recebeu 45 mil votos. Na eleição seguinte disputou o cargo de Deputado Federal e recebeu menos de 8 mil votos.

Dos 1.342.645 votos de Rodrigo Paiva em 2018, quantos foram devido à sua trajetória política e quantos foram dos eleitores que votaram no “Senador do Zema”? Fica o exercício para você, leitor, estimar.

Para acessar a votação de todos os candidatos do Brasil, para todos os cargos, estados e região, acesse nosso painel de dados gratuitamente.

Timing

Em um contexto em que os eleitores escolhem Senadores de forma menos criteriosa, muitas vezes votando em políticos conhecidos ou em candidatos apoiados por nomes do Executivo, a compreensão do timming é importante.

Muitos movimentos relevantes vão ocorrer apenas na reta final da disputa, quando o eleitor passa a prestar atenção na disputa eleitoral.

Muitas vezes, esses movimentos acontecem no dia das eleições, como no caso de SP e a busca pelo “Senador do Bolsonaro” no Google.

Portanto, é preciso ter cuidado com pesquisas quantitativas realizadas para o Senado. É fundamental basear as análises em dados qualitativos.

Via de regra, as pesquisas nos meses que antecedem a eleição para o Senado apresentam resultados de intenção de voto baseados no recall político, que podem não se sustentar quando o eleitor passa de fato a se envolver no processo eleitoral.

Baixo risco para o eleitor

Existem outras camadas na escolha do Senador.

Um mau Governador pode atrasar salários, acabar com as rodovias, não investir em saúde ou educação. São impactos reais no dia a dia do eleitor

Um mau Senador não trás riscos ao eleitor.

Um mau Senador, não vai prejudicar os servidores, não vai atrasar o pagamento a fornecedores. Talvez gere memes antes de cair no ostracismo.

É um voto inconstante e que não passa pelos mesmos crivos dos candidatos aos cargos executivos.

A cada eleição, uma estratégia diferente

O numero de eleitos em cada eleição mudam: ora 1 Senador por estado, ora 2 Senadores por estado.

Com apenas 1 voto, é uma eleição majoritária em que o contraste é um dos principais recursos. Com dois 2 votos um dos candidatos pode buscar ser o “segundo voto” de um candidato mais forte, uma eleição que mimetiza outro candidato e pode levar à vitória.

Como preparar uma eleição para o Senado?

O primeiro passo é um diagnóstico eleitoral para compreender a conjuntura política de cada estado. É a pedra fundamental campanha e deve combinar técnicas qualitativas e quantitativas para determinar a viabilidade dos candidatos.

Em seguida, é preciso começar um trabalho de pré-campanha para consolidação do núcleo duro de eleitores, que mais tarde serão os multiplicadores da mensagem.

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