Etnografia
A etnografia e a pesquisa etnográfica são áreas do estudo social com aplicações na antropologia, ciências sociais, políticas e culturais. Continue lendo para entender o que é etnografia, o significado do termo, como realizar uma pesquisa etnográfica e algumas aplicações práticas.
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O que é etnografia: Significado
De acordo com o dicionário Aurélio, o significado da palavra etnografia é:
Etnografia:
Ciência que descreve os povos no relativo aos seus costumes, índole, raça, língua, religião, etc.
Na prática, a etnografia é um dos métodos utilizados na antropologia para coletar de dados e realizar o estudo de um determinado grupo social. A metodologia pode ser utilizada para compreender tradições, crenças, costumes e até mesmo nações. Além de como essas variáveis se modificam se alteram entre as gerações.
A termo etnografia deriva do grego. Ethno significa nação ou povo e graphein descreve o ato de escrever. Em uma interpretação etimológica, seria a formalização escrita de hábitos e culturas de um povo, país ou nação.
O estudo etnográfico geralmente é conduzido por um antropólogo social, ao qual damos o nome de etnógrafo. Neste caso o pesquisador é a própria ferramenta de pesquisa. Ele, munido de um problema de pesquisa e guias conceituais, realiza a observação participante. Entraremos em detalhes sobre essa técnica mais à frente.
O que é pesquisa etnográfica:
A pesquisa etnográfica é o processo de estudo de um determinado grupo social. É através da coleta de dados e das observações realizadas durante o período de pesquisa que serão definidas as características etnográficas da população.
Por não utilizar metodologias estatísticas, o levantamento etnográfico faz parte do rol de pesquisas qualitativas. Entre outras variações desta família de técnicas, estão os grupos focais e as entrevistas em profundidade.
Dentre as pesquisas qualitativas, a pesquisa etnográfica é mais holística. Por se desenrolar durante um longo período de tempo, o etnógrafo tem contato com vários indivíduos em inúmeras situações. Assim é possível analisar com muito mais clareza as particularidades daquele grupo.
A título de comparação, um grupo focal costuma durar no máximo duas horas e contar com cerca de 10 pessoas em ambiente neutro. Já a entrevista em profundidade é realizada com apenas uma pessoa por vez, em ambiente neutro e por no máximo uma hora.
Observação participante na pesquisa etnográfica
A observação participante é a principal ferramenta de análise etnográfica. Geralmente, o antropólogo social é o etnógrafo responsável pela pesquisa.
Os investigadores são levados a partilhar papéis e hábitos dos grupos observados, estando assim em condições favoráveis para observar factos, situações e comportamentos que não ocorreriam, ou que seriam alterados, na presença de estranhos.
Portanto, a observação é realizada através do contato direto, frequente e prolongado. Para ser exitosa, a observador participante precisa ser capaz de isolar experiências prévias de outros contextos sociais. Só assim a ferramenta, que neste caso é o próprio etnógrafo, pode apresentar resultados fiéis à realidade daquela comunidade.
Críticas à observação participante
De maneira geral, a observação participante tem sido classificada como uma ciência humanista, e, portanto, não integrante das ciências físicas, as quais são fortemente ancoradas em métodos, procedimentos e técnicas.
Dado o caráter mais humanista da observação participante, os etnógrafos vêm resistindo a formular técnicas e procedimentos definitivos. Portanto, os resultados muitas vezes são classificados como artificiais, inapropriados e possivelmente enviesados pelos pares acadêmicos.
Muitos cientistas sociais e antropólogos classificam a observação participante como uma arte. Muitas vezes construída através de tradições e experiências de outros etnógrafos.
Frente às diversas críticas à técnica base da etnografia, a observação participante começou a ser discutida como técnica padronizada e procedimental. Entretanto, uma série de divergências foram criadas. Como por exemplo, a forma de se integrar no dia a dia das comunidades, como serão criadas as relações entre observador e população, a teoria por trás da interpretação, a lógica da descoberta e da indução a certos comportamentos e outras formas de se obter informações.
Por fim, os esforços no âmbito de padronizar a observação participante se mostraram ineficazes. Cada escola de antropologia continua adotando práticas próprias. Isso dificulta a comparação e análise de etnografias realizadas por diferentes instituições e por diferentes etnógrafos.
Exemplo de pesquisa etnográfica
O primeiro estudo etnográfico que se tem notícia é o livro “Argonautas do Pacífico Ocidental”, do antropólogo anglo-polonês Bronisław Malinowski. A estudo foi baseado na observação participante do autor nas Ilhas Trobiand, entre 1914 e 1928.
O objeto central do livro é o estudo da Kula, um sistema místico adotado pelos nativos que está no cerne da convivência social da ilha.
Durante o relato, Malinowski também discute também os pilares da etnografia, ciência que acara de criar. Na sua visão, esses pilares são: A lógica científica, as condições de trabalho e convivência na comunidade, e o método especiais baseados na etnologia.
O trabalho também contou com extenso uso da fotografia como forma de registro das tradições e culturas locais.
O livro Argonautas do Pacífico Ocidental foi eleito o 20º livro de não-ficção do século XX pelo jornal Folha de São Paulo.
Outro trabalho etnográfico que ganhou destaque nos últimos anos foi a observação participante da antropóloga Kate Fox sobre sua própria nação, a Inglaterra.
No livro Whatching the English, Fox sintetiza suas observações culturais sobre o sistema de regras não escritas da cultura britânica. A etnografia discute em detalhes o sistema de classes que ainda vigora no país, e mergulha nas diferenças de comportamento entre cada setor da sociedade.
O relato abrange desde o vocabulário empregado por cada estrato social, até fabricantes de carros e raças de cachorros preferidas. Até mesmo a existência de determinados utensílios domésticos pode ser um indicativo da classe social.
Uma observação: na rígida cultura inglesa, a classe social não é determinada pelo patrimônio, como em muitas culturas ocidentais. A posição social é determinada pela ascendência nobiliárquica, que remonta aos reis e rainhas da idade média.
Modelo de pesquisa etnográfica
De maneira geral, os resultados finais de uma pesquisa etnográfica são publicados como dissertações de mestrado, teses de doutorado ou em artigos, capítulos de livros, ou até mesmo como livros completos.
A quantidade de informações coletadas na observação participante, geralmente gera um material tão rico, que tolher o trabalho final para se enquadrar em normas de congressos não é viável.
Embora eventualmente os resultados sejam discutidos em seminários e congressos após a publicação do trabalho integral.
Saiba mais
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Converse com um especialista em pesquisas de opinião pública e mercado do Instituto OPUS
10 Comentários
Gostei muito do conteúdo, bem elucidador!
Obrigado, Marta!
Me tirou muitas dúvidas, foi bém esclarecedor.
Obrigada
Obrigado pelas palavras, Heloisa!
É muito interessante esse conteúdo.
Estou no 5 ano de Serviço Social,e a cadeira é Pesquisa Intermediária no Serviço Social,e lendo sobre Etnografia e como pesquisar,está sendo bastante interessante! Obg pelo artigo escrito.
Obrigado, Viviane!
Parabéns pelo conteúdo, bem informativo e de fácil entendimento.
Conteúdo bastante útil,abordagem simples e clara.grata
As ótimas inflexões sobre esse tema pouco procurado, me tirou muitas dúvidas, me colocando nos trilhos da atividade que preciso desenvolver.
Muito elucidativa e que me facilitou a compreensão do que terei que fazer para obter os fins que necessito.
Parabéns pela brilhante abordagem do tema.